Fotografia vai muito além de apertar um simples botão

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Luís Nova fazendo pose

Definir a temperatura de cor, focar, enquadrar, escolher a profundidade de campo, medir a luz, compensar a velocidade com a abertura e clicar. Tudo isso para fazer, ou tentar, a foto perfeita. Infelizmente, muitos desvalorizam essa ciência. Os leigos repetem muito: a máquina faz a foto. O que muitos não entendem é que, por trás de qualquer equipamento, há um profissional, capacitado para escrever com a luz, conhecido como fotógrafo.

“Fotografar é colocar, na mesma linha, a cabeça, o olho e o coração”, afirmou Henri Cartier-Bresson. O clique vai além de apertar um simples botão em um aparelho que faz foto automática. Todos os elementos estão interligados. A máquina, o fotógrafo e o sentimento tornam-se um só. Há uma simbiose entre o orgânico e o inorgânico. O resultado é a foto.

“De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa, para sempre, o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória”, destacou Henri Cartier-Bresson.

A fotografia é muito importante para eternizar um momento. Mesmo após o clique, o produto é o passado. O ato de fotografar é o de guardar, permitir a recordação de algo remoto. Quantas vezes uma pequena fotremeteu a alguma história? Quantos sorrisos um simples papel fotográfico trouxe? “A fotografia ajuda as pessoas a ver”, já dizia Berenice Abbott.

A luz dança em uma fotografia. Um pequeno raio de sol, que passou pelas folhas das árvores, cria contorno. A distância focal cria efeitos.  Perto e longe. Com fundo ou não. O fotógrafo tem a capacidade de brincar com a situação. É tão bonito uma foto em que apenas uma modelo está destacada, assim como é bonito uma foto com o fundo estourado. Tudo é permitido, basta criar. A fotografia não se resume em apertar um botão e, sim, em escrever com a luz.

Por que é tão dificil as pessoas entenderem? A tecnologia veio para ajudar, mas, às vezes, parece que atrapalha. Se o celular faz uma foto no automático é porque alguém usou os princípios óticos para programar. A foto fica boa, não tem como negar. Mas as fotos acabam iguais. Olhe o Instagram, milhares de fotografias, elementos iguais. Estamos condenados a contar a história no mesmo formato? Acredito que não. A história não merece ser homogênea.

Paro para pensar os meus primeiros passos na fotografia. Morava em São Paulo, e minha mãe me emprestou uma máquina semiprofissional. Achei o máximo. Falei com dois amigos, e fomos à Vila Madalena. Tentei fazer um ensaio. A experiência foi muito bacana. Sobre as fotos, não posso falar o mesmo. Mas temos que começar de algum lugar.

Um ano e meio depois, voltei a Brasília. Consegui um estágio em um jornal local. Na época, era estagiário de texto. Aos poucos, fiquei próximo dos fotojornalistas e consegui comprar a minha câmera. Nos meus sábados de descanso, trabalhava de graça para aprender. Cada dia era uma aula. Lembro de ter aprendido sobre luz, enquadramento, velocidade, kelvin e mecanismos básicos do equipamento, tudo com os colegas.

Após seis meses, o editor do jornal me deu uma oportunidade. Ia para a pauta tremendo. Sempre fui inseguro. Por motivos maiores, saí do estágio tempos depois. Mas carrego no peito tudo que aprendi. Se hoje tenho essa profissão, um dos responsáveis é o editor bravo de lá, onde também fiz amigos (isso é outra história).

Contei tudo isso para dizer que todo fotógrafo tem uma história e merece respeito. Falar que o equipamento é tudo é indelicado. Atrás de uma lente, existe alguém que se dedicou para chegar aonde chegou. Para garantir uma boa foto  são anos de sofrimento. Cada foto significa um grão de areia no deserto da fotografia. E, quanto mais aprendemos sobre a área, mais precisamos aprender. Então, antes de menosprezar o ato de fotografar, reflita.

Luís Nova, jornalista, fotógrafo, assessor de imprensa e colaborador do Quadra Zero. 

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